segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A inércia do brinquedo

Dias nublados. Eu tenho uma mania muito feia; para os outros, bem cômoda. Sempre que gosto de alguém, seja como amigo, seja como amante, seja como afeto, ou os três, eu teimo em querer mostrar para a pessoa certas coisas que ela deveria enxergar naturalmente. Essa é a minha visão docente e autoritária. Não posso querer que todos tenham o mesmo prisma de vida que eu.
Mas a moça linda pode discordar de muitas atitudes. O fetiche tem sido um mau menino e, embora ela tenha falado, ele continua a ser o brinquedo mal criado que ela quer jogar fora e não consegue.
O fetiche quer brincar de ser Deus: sempre querer saber o que virá no futuro, seja ele amanhã ou ano que vem. Por ser inerte e covarde diante da vida, arrumou um outro brinquedo, uma espécie de mamulengo, que manipula com mais facilidade sem precisar tomar decisões, sem se expor ao real. Ela não entende porque ele quer brincar de ser Deus, porque ela já é deus! Ela não aceita que ele queira brincar com outro brinquedo se ela é o melhor deles.
O fetiche, porém, não tinha vontade de deixar de ser assim. Sua natureza era inerte. Até a brincadeira de ser deus faz parte da insegurança do fetiche, da covardia diante dos desafios. E o fetiche passou a ser ideologicamente dependente do mamulengo. Os dois eram os brinquedos perfeitos, alimentavam brincadeiras perfeitas, mesmo que frustradas. Não havia amizade nem amor. Mas havia conveniência e disso a moça bonita entendia...
O mamulengo e o fetiche inverteram as posições. Agora o mamulengo vinha primeiro, até na ordem das frases. Eram dependentes um do outro e criaram mecanismos de defesa para que ninguém penetrasse na cortina de ferro que criaram como cenário. Outros brinquedos não podiam brincar juntos. Apenas a moça bonita era convidada e, mesmo assim, sempre para interpretar a inimiga nas brincadeiras. Não havia amigos, não havia convivência. Não havia leveza. Não havia transparência. Tornaram-se uma simbiose estranha, medíocre e medonha, com dogmas intransponíveis.
O mamulengo era pesado com a moça, irônico e sarcástico. A moça perfeita se sentia cansada, machucada, ferida na alma, impotente na sua perfeição. Ela era a ameaça porque já era deus. Porque convencia e manipulava sem ser mamulengo.
Ela ficava triste porque não queria deixar de ser a moça bonita, só queria brincar, só queria ser livre! Mas o mamulengo era superficial e o fetiche era profundo. A profundidade do fetiche era a brincadeira que a moça queria; a superficialidade do mamulengo era o defeito do brinquedo que ela queria jogar fora.
E o que era mais contraditório era o gosto que a moça tinha pelo mamulengo. Beirava a paixão. Ele era agradavelmente sedutor e gostava de ser deus como ela. Com o fetiche ela se sentia livre, brincava, sorria, era a personagem completa. Com o mamulengo ela exercitava suas capacidades e seus instintos; começava a se apaixonar pelo seu próprio lado obscuro. A sombra da maldade. Do mamulengo ela queria experiência. Do fetiche ela queria liberdade. De um a paixão, do outro o amor. O egoísmo do mamulengo a fascinava por ser tão explícito, por ser franco; a franqueza que em toda sua perfeição e divindade, ela não conseguira atingir.
Assim, quem ficou inerte foi a moça linda... Porque as coisas não são medíocres e oportunistas dessa maneira, podem acreditar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 
BlogBlogs.Com.Br