O dia estava cinza como eu. Cinza porque o preto é ícone de tristeza e o branco é ícone da alegria. Assim eu simbolizei as cores do meu dia. O amarelo do sol, o azul do céu, o prata da chuva, tudo era coadjuvante. O cinza é ícone do aprendizado. E não existe aprendizado sem tristezas e alegrias. Quando se mistura tudo num caldeirão e se tira proveito dos reveses ou não se deixa a alegria acordar a vaidade do sono profundo, tudo fica cinza. É um modo bonito de ver a vida. Há verdade no cinza.
Não é simplesmente estar feliz ou triste. É ser autêntica consigo mesma. Descobrir a verdade interior, a poesia do pôr-do-sol, a pieguice das palavras doces e o remédio que elas representam na vida de muita gente, o tom do céu de outono, o chamado do mar, a música das ondas e das chuvas, o prazer dos olhares e das palavras não ditas, o silêncio que ecoa nas almas surpresas, a matemática do amor.
Ruy Belo
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*Ruy Belo foi* um poeta de grande representatividade na poesia portuguesa
contemporânea, além de ensaísta e crítico literário. Com formação nas áreas
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Há um ano
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