quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ode a Macaé



Pobre Macaé, que como mãe generosa, acolhe todos os filhos, naturais ou postiços, dando o seu melhor – sua água, seus mares, sua Lagoa, seus rios, seus campos e suas riquezas. Pobre Macaé, que esquecida pelos próprios nativos, vê, nem tão lentamente, seus mananciais se esgotando e suas vias se encherem de lixo.

Pobre de Macaé que tanto acolheu, vê crescer a barbárie, a ignorância, o descaso e o 'cada um por si'. Essa Macaé é a que tem shopping que faz com que os consumidores dêem a volta na chuva por fora do estabelecimento, só porque uma consignação entre supermercado e administração impede os compradores de passar por uma porta após as 22h. É essa Macaé que com cinco minutos de chuva fica completamente alagada porque o poder público em décadas não tomou uma providência realmente eficaz e porque o povo é cada vez mais mal educado, entupindo bueiros e rios com lixo.

É esta Macaé, onde o absurdo impera, em que somos obrigados a nos acostumar com o bizarro, com o anormal, e onde todo o tipo de descaso parece ser parte do cotidiano. É na mesma Macaé onde os mosquitos passeiam em bandos, invadindo casas, comércios, olhos e bocas dos moradores, como num protesto irônico, mas nem tão silencioso.

Macaé do colorido das linhas – Azul, Verde, Vermelha -, vê anularem-se as sinalizações e a pouca pintura que existe no fino asfalto ao cair da noite e ao sinal da mínima chuva. A cidade que possui hotéis de grife internacional, shopping de renome nacional, lojas de grupos famosos e empresas que atraem riquezas do mundo inteiro, é pobre aos olhos de quem nasceu aqui e já perdeu as esperanças de ver melhorias concretas na qualidade de vida.

Engana-se o administrador que julga ser uma pista nova, uma praça num bairro, meia dúzia de casas legalizadas após invasão ou aterros que certamente acarretarão enchentes num curto prazo, as 'melhorias' que a cidade precisa.

Junto ao povo que a despreza (os que nasceram e os que foram acolhidos), estão aqueles que, como eu, são gratos pela oportunidade e pela acolhida e querem sim ver a cidade crescer DE VERDADE. Crescer como uma cidade que recebe milhões em Royalties, crescer como um local que já possui qualificação e profissionalismo nativos, crescer com a estrutura que as riquezas do ouro negro podem proporcionar.

Sonho com uma Macaé em que as entradas da cidade não sejam grandes favelas com imensas gambiarras de fiação, onde a maioria das casas possa ter um jardim ou horta, em que ruas sejam limpas, onde a água da chuva seja escoada; em que os rios, a Lagoa e o mar sejam cada vez mais respeitados como fonte de vida e lazer. Imagino Macaé com comércio estruturado, profissionalismo da vassoura do gari ao mais alto diretor de multinacional, ruas pavimentadas com asfalto e sinalizações REAIS, água nas torneiras e esgoto tratado em todas as casas. Sonho com Macaé onde o doente seja atendido sem precisar ser amigo do Rei, que receba remédios como a Lei maior determina e onde ambulância realmente 'NÃO SEJA TÁXI'. A Macaé dos meus sonhos, eu que nasci no Rio Grande do Sul, é aquela que fará jus à toda generosidade que sempre teve com os forasteiros que, assim como minha mãe, vieram para cá tentar a vida.

Há algum tempo eu já sei que essa sensação de 'não gostar da cidade' na verdade é uma revolta aos maus tratos que ela sofre; uma sensação que mistura impotência, indignação e piedade porque a impressão que dá é que a ganância sempre se sobrepõe à justiça. Hoje vejo Macaé como uma mãe maltratada, cansada e injustiçada que merece que cada um faça a sua parte, não jogando lixo nas ruas, denunciando a corrupção, exigindo melhores serviços desde a padaria da esquina até a gigante Petrobras; respeitando o próximo e o trânsito; analisando e dando o voto a quem merece de fato. Para que essa sensação de que tudo que chega aqui é 'escrachado e esculachado' mude e que a cidade conquiste finalmente o status que tanto merece, ainda que tenha que expulsar muitos que não deveriam estar aqui!

“O que me assusta não é a maldade dos maus, mas a omissão dos justos." Martin Luther King

* Foto: Wanderley Gil



Um comentário:

  1. Você descreveu exatamente a sensação que nós(macaenses) temos. É triste porque até o povo acaba se envolvendo nesse emaranhado de corripção e injustiça. " A melhor mudança é a que vem de dentro para fora".

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