domingo, 21 de junho de 2009

O jardineiro do Éden


Há tempos não contemplava aqueles longos cabelos negros, levemente ondulados. Aqueles olhos expressivos, escuros e lustros como jabuticabas maduras, e aquele jeitinho de falar unindo o português aprendido nos últimos anos à sensualidade das palavras hispânicas.

Sim, tínhamos dois amigos em comum, mas nem a esses amigos ultimamente costumava fazer companhia. Inesperadamente, numa dessas saídas em que se vai por querer pôr o nariz para fora de casa para respirar ares distintos, o bendito "acaso" coloca aquele deus uruguaio (e os gregos, neste caso, teriam inveja) novamente na minha frente. Nem preciso dizer que meu sorriso foi o mais franco e contente. O dele não deixou barato. Lindo exército de mármore enfileirado me saudando com gosto! A frase imediata recorrente nos meus pensamentos: "Como alguém pode ser tão belo...

Algumas palavras dos amigos, algumas minhas para quebrar o gelo (sou boa nisso!), algumas intervenções de conhecidos e a tão esperada oportunidade de estar a sós com ele novamente.

- Achei que nunca mais iria te ver
- Por quê? Moramos na mesma cidade
- Soube que você tem saído pouco.
- É, minha pequena tem absorvido muito do meu tempo de lazer, mas é por gosto.
- Filha?
- Sim, uma menina de 3 anos
- Deve ser linda como a mãe
- Creio que bem mais que ela (ruborizei)

As mãos nos meus cabelos tiraram qualquer controle que eu poderia ainda ter sobre minhas palavras e pensamentos. Os dedos percorriam meus fios, a orelha, minha nuca... e aqueles olhos me fitando em silêncio... Os meus já se entregavam e queriam fechar. Aguardavam um sinal mais intenso para a entrega total. Uma eternidade no paraíso era o que pareciam aqueles segundos. Um leve feromônio atravessou o ambiente e senti os lábios mais deliciosos da cidade tocarem os meus. Com um toque sutil, porém firme, ele segurava meus cabelos direcionando minha cabeça a tombar nos seus braços.

Com certeza, de perto, mas suficientemente distante para não quebrar nosso clima, os amigos comemoravam a vontade de todos sublimada.

Mas como todo conto real não necessariamente tem aqueeeeele final feliz, esta continuação feliz teve que se perpetuar para o dia seguinte. Eu não poderia me demorar por ter alguém importante da minha família em casa e esta pessoa muito cara para mim iria viajar hoje pela manhã. Mais uns beijos, alguns contatos mais quentes e a certeza do "quero mais".
____

Dia seguinte, compromissos cumpridos e o telefone toca. No íntimo, tinha dúvidas de quem esperava que fosse, mas adorei a surpresa de ver seu número vibrando.

- Oi
- Olá, tudo bem?
- Muito melhor agora que ouço tua voz
- É??? (sem graaaaça... Incrível como ficamos piores que adolescentes quando o assunto é o coração...)
- Sim, quase não dormi pensando na gente e no que você me disse... nas coisas que você falou
- Que bom! Também fiquei feliz em te reencontrar... Muito mesmo (queria parecer mais durona do que fato sou)
- Faz o que agora?
- Estou em casa organizando as coisas para minha festa de aniversário
- Hum, já estou triste por não poder participar, mas... Agora pensei em tomar um café contigo
- Onde? Que horas? (ohhh ansiedade do c...)
- Que acha da Lagoa, fim de tarde?
- Acho uma ótima idéia, só preciso perguntar ao meu companheiro de lar se pode olhar a minha filha
- Ah sim
- Só um minuto (eu sabia que a resposta era sim!)... Sim, podemos ir. Passo na tua casa ou nos encontramos lá?
- O que ficar melhor pra você. Acho mais fácil você me encontrar lá pela distância
- Tá bom (não deveria oferecer facilidades assim. Não no início, pelo menos). 17h horas no Café Cultura, pode ser?
- Ótimo. Espero você

Sim, ele estava lá quando cheguei, por volta das 17h10. Os olhos me fitando, como que observando algo indecifrável, mas curioso. Eu um tanto tensa pela profundidade do olhar. Sim, sou tímida quando estou interessada em alguém, acreditem ou não. E sei ser beeem mulherzinha. Acho que depois dos 30 aprendi a me permitir ser conquistada. A gente vai equilibrando a malícia com a dose de inocência que os homens gostam nas mulheres, mesmo que seja uma inocência completamente superficial (como no meu caso).

Amenidades, aleatoriedades e um longo passeio pela orla da Lagoa, linda com o entardecer que só Floripa tem no outono e no inverno. Aliás, hoje começou o inverno e eu espero que a estação que tenha começado no meu coração tenha sido a primavera!

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