Tudo era verdade até o dia em que Laura resolveu contar sobre sua emoção. Era tudo perfeito, fluía com gosto de primavera, mas algo perturbava seu sono, soprava aos seus ouvidos. – Conte a ele, Laura, conte como você se sente! Conte rápido antes que o encanto termine...
Laura tomou coragem e contou. Foi uma noite tumultuada, com sombras, pavores e esperanças. Lá se foram horas de sonhos, pensamentos e treinos para escrever o que era adequado. Com a cabeça confusa e povoada por centenas de frases vindas das bocas de Pedro, Cosmo, Isadora, Joana, Leandro, Peixe, Patrícia e Aquiles, de uma vez só Laura escreveu as duas páginas do desfecho.
Ela sabia que o amava, desde o dia em que viu Pedro pela primeira vez. Sua alma havia lhe contado em segredo. Porém, como todos os seres que tentam ser reais fazem, ela tentou negar. Negou amar, negou amor por ele, negou ser personagem, negou ser ela mesma, negou ser gente. E voltou ao ponto inicial.
Laura sabia que Pedro a abandonaria, pois seria pesado demais para sua alma-personagem suportar um amor tão real. Porém, agora Laura não era mais uma personagem, nem Pedro era mais um fetiche. Contando a verdade ela terminou com a fantasia, mas iniciou a fábula do real.
E foram todos inteiros para sempre!
Ruy Belo
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*Ruy Belo foi* um poeta de grande representatividade na poesia portuguesa
contemporânea, além de ensaísta e crítico literário. Com formação nas áreas
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Há um ano
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