Eu tenho uma teoria. Ok, frase clichê, sobretudo para uma jornalista. Mas me prometi escrever sobre o assunto após dois espisódios em dias seguidos que me deixaram perplexa. O nível de egoísmo do ser humano está tão exacerbado que não podemos nem chamar mais de falta de educação e sim de perda total de bom senso.
Segunda-feira. 18h. Terminal do Centro de Florianópolis. Chuva torrencial dá uma estiada. O ônibus que costumo pegar sai cheio e eu estou sentada à janela. No primeiro ponto entra uma moça, dessas com estilo, fone de ouvido, óculos abelhão de marca, unhas pintadas, magérrima e cabelos lisos. Cara de bem nascida e bem criada. Senta à janela no banco da frente. Escancara a ventarola de cima e no começo até achei bom. O ônibus estava lotada e tudo estava embaçado, com aquele cheiro de cachorro molhado que só os coletivos em dias de chuva ostentam.
Só que a chuva apertou e eu comecei a ficar encharcada com os grossos pingos. Como vi que a mocinha estava distraída com seu fone, toquei levemente em seu ombro e pedi que fechasse a janela. Poderia ter feito por conta própria, mas a janela estava em cima dela e, teoricamente, na minha visão, naquele momento lhe pertencia a 'administração'. Para minha surpresa, ela tirou o fone e fez um 'hã' em misto de raiva, impaciência e desprezo, colocou a mão na janela e fechou com uma força tremenda. Fiquei quieta porque fui atendida. Em dois minutos a moça abre novamente a janela, ignorando o meu pedido anterior e o desconforto dos outros passageiros. A moça ao meu lado, indignada, levantou-se e fechou a janela também com força, passando por cima da 'administração' da moça.
Sem o mínimo de auto-consciência a dita cuja patricinha levantou-se e foi para o banco da frente, escancarando a janela mais uma vez. O rapaz ao lado fez menção de fechar e ela pôs a mão na dele impedindo-o. O rapaz olhou atônito para aquele gesto mal educado. Então a mocinha discursou:
- Eu estou sentada aqui e a janela está sobre mim. Quero deixá-la aberta e quem for de açúcar que sente em outro lugar!
Então o rapaz sorriu, levantou-se e, já de pé, respondeu educadamente:
- Pois então, moça, sugiro que compre um carro com teto solar, mantenha aberto, junto com os vidros e ande na chuva. Não sei se a senhorita percebeu, mas este é um veículo coletivo!
Todos ao redor sorriram, cúmplices dele. Eu mesma quis beijar o rapaz na boca pela presença de espírito e coragem diante de tamanha falta de bom senso da moça. Isso me fez pensar em como as pessoas carecem de senso de coletividade e em como deixam que seus egoísmos tomem a frente de suas vidas.
Continua...