segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Apagando os registros

Quanto mais vivo, mais sinto que coisas relativas ao currículo importam menos, pelo menos para mim. Me importa o brilho nos olhos, os sorrisos partilhados e os abraços sinceros.

Sou uma pessoa que tive a felicidade de amar e ser amada; estudar e trabalhar em excelentes instituições e não quero ser vaidosa ao citá-las. Amo viajar e já pude realizar algumas visitas ilustres a esse mundão belo de deus. Amo cinema porque acredito que é nele e por ele que as maiores poesias se concretizam dentro e fora de nós. 

Adoro ler e escrever. Ponto. É isso que faço de melhor e frequentemente me sinto falha, incompetente.

Acredito mesmo que o ego nos passe rasteiras constantes se deixarmos que ele cresça e nos comande. 
Vivo em constante mudança e felizmente tenho uma filha com a mesma alma aspirante que a minha, e um marido que é parceiro nas errâncias.

Sou Letícia, Laura, Lady. Sou algumas mulheres simples e complexas.

domingo, 2 de setembro de 2012

Vulgaridades


Ensaio despretensioso sobre um conto de fadas BDSM*


Estava quase mudando o título deste post quando me veio a idéia de procurar no dicionário o significado da palavra ‘vulgarizar’: tornar muito conhecido, divulgar, propagar. Portanto, o título é perfeito para minha linha de raciocínio.

Tempos atrás eu publiquei um texto sobre a construção do imaginário. Comentei como naturalmente criamos mitos em cima de pessoas que só conhecemos virtualmente ou com alguma distância em evento e festas, fetichistas ou não.

Recentemente comprei o livro 50 Tons de Cinza. Aliás, confesso, comprei logo toda a trilogia mesmo sabendo que os dois outros livros demorariam alguns meses para chegar. Comprei de teimosa, porque a maior parte dos meus amigos já torceu o nariz de cara para a sinopse. Assisti a alguns vídeos e fiquei apavorada quando a estória foi comparada a Crepúsculo – que não é exatamente o tipo de literatura que curto. Resumindo, pelas previsões, tinha tudo para odiar o livro e ter jogado meu rico dinheirinho no lixo.

Porém, surpresa! Eu amei o livro. Li em menos de dois dias as mais de 500 páginas do volume, ansiosa para que chegue o segundo, previsto para o mês que vem. E em meio a tantas críticas e o massacre da autora, resolvi escrever sobre o dito cujo com o pouco de autoridade que minha paixão por livros e meus anos de BDSM me conferem.

Analisemos os fatos. O livro foi escrito por uma mulher para mulheres LEIGAS. O livro tem uma narrativa bem construída, que cumpre perfeitamente aquela vontade louca de devorar uma página atrás da outra. O livro tem romance de forma pouco piegas e nada convencional. O livro mexe com a fantasia de toda mulher – ter em algum momento da vida um homem lindo, que a proteja e por que não rico?

Logo, o sucesso seria fatal. Se a senhora Erika Leonard James queria polêmica, ela conseguiu com elementos simples de acordo com os conceitos mais banais da psicologia social. Considerada uma das personalidades mais marcantes e influentes da Inglaterra contemporânea, a autora pisou num terreno sedento por aceitação. Por mais bem resolvidos que nós os fetichistas e / ou sadomasoquistas sejamos, sabemos que a marginalidade é a nossa praia e isso nem chega a incomodar alguns; mas perturba a muitos.

Li num comentário de um amigo que Cinquenta Tons de Cinza é uma trilogia como Sabrina ou Júlia, ou qualquer romance água com açúcar que recheou os sonhos das meninas-moças das décadas de 60, 70, 80 e 90. Sim, concordo. E eu adorava aqueles romances.

Raramente entro em discussões acaloradas nas redes sociais porque penso que após dois ou três trechos o argumento dá lugar à vaidade numa disputa sedenta pela razão. Prefiro ficar lendo e refletindo. Porém, a reflexão central do sucesso de 50 Tons para mim passa por uma questão importante: por que o diferente precisa ser denso? Ou melhor, por que a leveza de um romance não pode habitar estórias fetichistas ou SM?

Partindo do pressuposto que a literatura, assim como o teatro, o cinema e as artes em geral devem nos levar a mundos distintos por meio do lúdico, do prazer, do novo, do inusitado, da provocação e até do incômodo, qual o grande ‘erro’ de 50 Tons para estar sendo tão criticado pelo público SM? Será que é medo de que muita gente queira de fato conhecer esse mundo perverso, mundano e luxurioso e nos perturbe a paz com suas perguntas ingênuas ou descabidas? Ora, senhores, e isso já não acontece com freqüência mesmo antes destes fenômenos literários que tiraram a poeira das prateleiras de Sade e Bataille?

Mulheres buscando um príncipe encantado, de chicote ou cavalo, sempre vão existir. Aliás, elas estão aos montes no FetLife e em todas as redes sociais, muitas vezes disfarçadas em peles costuradas em letras muito bem escritas, ideologias requentadas e frases de efeito reconstruídas.


Tons indigestos


Ok, o livro é ingênuo para um praticante SM. Concordo. Até porque talvez até eu virasse sub “Alice” se um Christian Gray me aparecesse pelo caminho...rs

O que temos na vida real é bem mais cru esteticamente e na prática! Não há quartos da dor, tampouco concessões contratuais naquele nível. Eu pelo menos nunca soube de nada parecido.

Talvez uma impressão mais próxima da realidade, igualmente despertando emoções, só que de forma mais crível para a mente de um sadomasoquista, está contida no livro Amsterdã SM, do professor Antonio Vicente Seraphim Pietroforte. Na trama - que uns dizem ser autobiográfica - o autor narra as bizarrices da capital do submundo numa perspectiva fetichista. As sensações inquietantes e indigestas nos fazem viajar pelas cenas da capital holandesa. Não a toa é considerada a melhor novela erótica sobre o tema escrita em português.

#ficaadica


Tons inversos


E o que seria a relação Anastacia Steel e Christian Gray real?

Em primeiro lugar, o livro me despertou lembranças, emoções inquietantes e nostálgicas pelas quais me senti confortada em perceber suas existências. Emoções relativas a submissos e dominadores com os quais tive relacionamento. Logo, se as emoções existiram, é porque existe um vínculo do devaneio da autora com as reais práticas BDSM.

O vínculo maior, para mim, foi a inquietação que uma pessoa sente ao entrar neste mundo. A sensação de ser diferente, lasciva de forma insana. Não é rebeldia; é a transgressão de si mesmo. E esta sensação está impregnada nas páginas de 50 Tons, sobretudo na personagem de Anastasia, a submissa.

Outro ponto fundamental que acho similar ao real é como a submissa conduz verdadeiramente a relação. Uma fala de Gray mais ou menos no meio do livro chega a declarar essa premissa com todas as letras. Eis uma ‘verdade’ polêmica da qual sempre falei em textos e conversas. O poder do submisso é muito grande e está na sua satisfação muitas das posturas do dominador. Com a desculpa de agradar ao dono ou dona, o submisso ou submissa se submete a certas transgressões, mas na verdade testa os limites e o poder de quem está acima no chicote, exigindo disciplina, equilíbrio e estudo freqüentes, além de uma sensibilidade e responsabilidade de que pouco se fala neste universo.

Por fim, apesar de ser um livro com poucas entrelinhas – tudo passa a ser muito explícito logo na terceira página -, há algo de revelador nas tentações movidas pelo marketing de prateleira. A dominação psicológica sempre terá mais valor do que qualquer prática ou mesmo teatro SM. E se E.L. James bebeu ou não bebeu da fonte (ela nega em entrevista recente concedida à Revista Veja), só ela mesma para explicar os agradecimentos prévios do livro. Para mim, fica claro que sim. Ela dá detalhes demais para alguém que apenas imaginou um cenário sadomaso. E sabemos muito bem que quando se trata do Lado B de cada um, tudo é muito relativo. Agatha Christie que o diga...

* Texto originalmente publicado no Portal iFetiche


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Prazer, olho de gato!

O post não é sobre lindos olhos. É sobre sinalização.
Recentemente viemos de Macaé para Balneário Caboriú andando a maior parte do tempo pela BR 101, em trechos com concessões diferentes. Depois fomos a Caxias do Sul passando por Torres e retornamos a BC no início da semana.
O que nos chamou a atenção é como faz diferença a sinalização adequada numa estrada, não só à noite, mas sobretudo em trechos com neblina e na ocorrência de chuvas.
Por isso, gostaria de apresentar às autoridades de trânsito que ainda não conhecem, às concessionárias de estradas que ignoram a exploração dos motoristas e pouco investem em segurança e conforto, e ao poder público responsável pelos investimentos: eis o 'olho de gato'.
Sou uma pessoa com 16 anos de carteira de motorista, mas que aprendeu a dirigir há 20 anos. Neste tempo, muita coisa mudou, mas o 'olho de gato' continua sendo uma das formas mais baratas e simples de dar condições seguras a um motorista de conduzir seu veículo, mesmo em trechos de mão dupla, sem acostamento, curvas ou até buracos.
E se é tão simples e barato, por que algumas concessionárias ignoram este recurso de um Estado para o outro? Cito o exemplo da AutoPistaFluminense, que aqui no sul chama-se AutoPistaLitoral. Trata-se da mesma empresa com explorações de contratos diferentes. Ambas exploram a BR-101 na maior parte dos trechos, mas a diferença é gritante.

O trecho que vai do Rio ao Espírito Santo é horrível. Deveria ser proibida, inclusive, a conbrança de taxas, porque qualquer estrada pública no Sul é melhor que aquilo. Cheia de buracos, com trechos enormes em mão dupla, acostamentos inexistentes ou cheios de crateras, desnível, má sinalização e praticamente recurso algum para chuva ou dirigibilidade noturna. Resultado: acidentes horríveis todos os dias.
Já no trecho do Paraná e Santa Catarina a coisa muda de figura e a vedete é o olho de gato. Estou na falando na prática, gente, porque na teorias ainda haveria muita consideração a mais para fazer.
E como se não bastasse, o pedágio pelas bandas meridionais ainda é mais barato: R$ 1,70 a R$ 1,40, enquanto no Norte do Rio não sai por menos de R$ 2,80.
Alguma coisa está errada, não?
Sinceramente, como pessoa que curte viajar de carro, não me importaria nem de pagar os quase R$ 10 cobrados na Via Dutra pela CCR, desde que a estrada tivesse o mesmo nível de sugrança e qualidade.
Vamos fazer valer nossos direitos. E para não dizer quer só critico, a AutoPistaFluminense tem uma qualidade: a rapidez e cordialidade dos socorristas mecânicos. No mais, ainda precisa melhorar muito e não discriminar o povo para o qual presta seu serviço.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A legitimidade da fé



Como jornalista, já vi de tudo. Como estudiosa e pesquisadora, já assisti um pouco de cada corrente. Como professora, aprendo todos os dias com manifestações positivas e negativas.
Esta semana um texto me entristeceu, não por ser contrário às minhas opções religiosas e filosóficas, mas por ser baseado na intolerância e no preconceito.

A aluna em questão está no fim do Curso de Comunicação Social e me apresentou um paper que, além de repleto de ‘achismos’, tinha como única verdade de idéias os seus pensamentos restritos acerca do mundo, muitas vezes respaldados por falsos sacerdotes que incitam o conflito e a intransigência. Digo falsos sacerdotes porque não acredito que um homem que represente a pureza de um ser supremo possa extrair da perfeição dos escritos – sejam eles católicos, protestantes, judaicos, islâmicos, hindus, budistas, kardecistas ou afro-brasileiros – teorias que discriminem, punam, releguem e condenem.

O certo é que nos bancos acadêmicos o que pauta e norteia o aprendizado são a ciência, a pesquisa e as teorias já sacramentadas.

Estou numa dúvida cruel entre abandonar um compromisso assumido com a instituição e com uma aluna em favor de minhas próprias convicções, sendo de certa forma omissa no meu papel de educadora; ou continuar o trabalho mais uma vez tendo esperanças nas mudanças que podem ser conquistadas pelo poder do argumento.

Opto pelo meu lado ‘autêntico a qualquer preço’ ou pela minha habilidade persuasiva???



sexta-feira, 6 de maio de 2011

Com quantos toques se faz uma amizade




Bem, sou dessas. Empatia é fundamental para que revele meu lado mais secreto. Não que seja nada de fantástico ou de outro mundo, mas confiança e um toque bacana de sexto sentido são fundamentais nos teste da amizade. E amizades, assim como todas as relações mais sérias, precisam ser testadas.
Vejam o caso desta mocinha, tão teimosa e birrenta, ao mesmo tempo tão doce e prestativa. O coração nem cabe dentro do peito; o sorriso, sempre espontâneo, parece remédio de vó, capaz de tirar aquela dorzinha chata que tanto nos aborrece.
Vanêssa não é só diferente na grafia do nome ou no sobrenome imponente, digno dos barões da cana-de-açúcar. O semblante sereno contrasta com uma personalidade forte, cheia de valores construídos pelos passos e pelos calos. Até seus patrões espirituais são, no mínimo, incomuns. O lilás é praticamente uma sombra dela e talvez por isso tenha um abraço tão reenergizante.
O que posso dizer do meu empirismo é que devo a essa doçura o começo da minha adaptação e da minha aceitação em Macaé. Quando ninguém me compreendia ou estava ocupado demais para dar valor às minhas lágrimas, ela me abraçou, não me julgou e me acolheu. Conseguiu transpor para sua própria experiência o meu momento de dor. E é por isso que deixei a minha amada amiga por último, porque não queria escrever uma crônica, com palavras bonitas ou poetizar uma relação. Queria contar para todo mundo o valor dessa moça e essa importância que ela teve e sempre terá na minha vida. Vanêssa conseguiu, na minha modesta lista de seleções, ocupar alto grau de consideração ao lado de pessoas que há anos encontram-se no boteco dos amigos, dentro do batuque do meu coração!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ironia exótica



“Você não é looouuuuccca de não escrever de mim?”. Não. Nunca. Apenas maturei na mente as palavras para descrever essa moça de sorriso misterioso, que carrega no perfume as notas de patchouli e cupuaçu. Ironia exótica e nome presente. A confusão vem da imponência e da malícia desenvolvidos como arma de defesa.
Não pretendo ser original, apenas justa nesta simples homenagem.
Como Belém, sua cidade natal, onde nem todos apreciam de cara a capital do açaí, bem como as belezas mistas do Norte, é preciso ter humildade e uma boa dose de persistência para conhecer verdadeiramente essa mulher com jeito de menina.
Quanto à cidade, a imagem que se tem é que trata-se de local extremamente quente, úmido, sem beleza e com excesso de sabores estranhos. De todos os pré-conceitos, apenas os dois primeiros procedem. Belém é quente e úmida, assim como a moça não leva desaforo pra casa, mantendo o sorriso nos lábios e o sarcasmo em punho.
Entretanto, a ausência de beleza e o excesso de exotismo são a desculpa de quem prefere ficar longe do desconhecido, mesmo que ele possa ser descortinado como grande e bela surpresa. Conhecer Celine Moraes foi descobrir que os pré-julgamentos estão fadados ao fracasso e que nem sempre as armadilhas da convivência correspondem à pureza da realidade.
Conhecer Celine – do latim, a descendente do céu -, foi como conhecer Belém. Um rio imenso de surpresas boas e doces, carregadas em sabores pouco conhecidos, mas sempre apreciados quando longe dos pudores.
Agradeço à Belém por tantas coisas boas que já proporcionou à minha vida e à minha família – pessoas, cheiros, gostos e amores; agradeço à Celine pelo aprendizado, pelos conselhos e pela quebra de paradigmas que me ofereceu nestes seis meses de convivência diária. Que seja uma amizade longa e duradoura, assim como as minhas melhores lembranças acerca da capital paraense.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O segredo da mochila



Que há naquela mochila preta, entre o colo ovalado e a mesa do prelúdio? Sonhos, temores, projetos, armadilhas ou autosabotagem, pedaços de doçuras, crenças, valores, aventuras em forma de recordação...
Na mochila do rapaz alto, de semblante tímido, porém audaz, os mais profundos segredos estão reservados, protegidos pelo abraço zeloso que não os abandona nem nos momentos de descontração em seu 'trono' de couro.
O “rei da redação” talvez guarde na mochila parte de cada um de seus súditos em forma de símbolos, lembranças, partes de não-sei-o-que-que-não-se-quer-lembrar, momentos de solidão, de incompreensão, de impotência; fantasias e desejos – recônditos da alma.
Mas há muitos sorrisos guardados na mochila, contentamento de planos bem sucedidos, de alegrias de gente, de prosperidade, de autoestima, de carinho, de juventude e reconhecimento. Enfim, a mochila é o índice da vida daquele rapaz, cheio de poder e ainda tão no início da vida, com muitas e múltiplas estradas e escolhas a serem feitas.
Para os desvios, a mochila guarda os mapas de retorno à trajetória; para as surpresas boas, a mochila tem sempre um cantinho que a reserva como bateria que o move em busca de novos rumos; para as surpresas nem tão saudáveis, a mochila tem o remédio lá no fundo do mais escondido zíper – refúgio da alma.
A mochila do reizinho (ou reizão) é a tez de uma vida de batalhas, sucessos precoces, escolhas fadadas e muitas promessas. Guarda na tua mochila, reizão, tudo aquilo que construíste com tua essência – num compartimento secreto, onde ninguém possa mecher ou alterar; e deixa ela longe de tudo o que não te acrescentou nada ou pouco nessa busca pela perfeição, comum a todos aqueles que perseguem a excelência. Afinal, é preciso esvaziá-la de vez em quando, abrindo espaço para o novo.
Et où en serions-nous sans nos boîtes de secret?
La réussite et le bonheur à vous toujours, quel que soit le choix chemin que vous...
(essa foi em homenagem ao grande interesse pelo francês dessa redação e deste jornal – mas o significado das poucas palavras é real e de coração!)
Vive la fête!
 
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